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terça-feira, 30 de novembro de 2010

ADIMU: Responsabilidades Compartilhadas

O objetivo deste texto1 é o de esclarecer alguns posicionamentos assumidos pelo artigo “Avaliação escolar municipal” de autoria da professora Ana Maria das Dores, publicado por este jornal no dia 14/11/2010.

Inicialmente, é preciso dizer que a Avaliação Diagnóstica Municipal de Uberlândia (ADIMU) não foi “criada” e tampouco se trata de algo “vindo pronto de cima para baixo” (sic). A ADIMU, implantada este ano na rede municipal de ensino, foi idealizada para ser o nosso e não mais um instrumento de avaliação em larga escala. Estamos inaugurando um sistema de diagnóstico para identificar dificuldades dos alunos no início e no final de cada ano letivo. E, assim, possibilitar ao próprio professor programar/reprogramar atividades diversificadas ao longo do ano letivo no intuito de amenizá-las. Longe de ser uma ação isolada da assessoria pedagógica da Secretaria Municipal de Educação de Uberlândia (SME), a proposta é construir, em parceria com a comunidade escolar, uma prática de diagnóstico contínua e não circunstancial; reveladora e não classificatória. Justamente por esta característica de algo em construção, é que toda contribuição no sentido de aprimorarmos o processo será bem vinda. Mas não podemos nos calar diante de discursos panfletários que, ao invés de fazer uma crítica saudável e propor caminhos alternativos, se ocupam apenas em atirar a primeira pedra, sem vislumbrar um contexto maior de telhados de vidro.

É pertinente lembrar que a ADIMU foi idealizada por uma equipe de professores/coordenadores da própria rede com experiência em sala de aula. Dentre os quais, estão representantes legitimamente eleitos pelos seus pares para coordenar a Formação Continuada das áreas envolvidas. Este grupo elaborou e está acompanhando os resultados do diagnóstico. Não só durante a aplicação das provas, mas, principalmente, durante sua divulgação e repercussão. O que tem ocorrido em reuniões específicas, nos encontros de Formação Continuada e nas escolas.

A ADIMU não tem a pretensão de abarcar todas as idiossincrasias de nossos alunos, ou atender todas as peculiaridades locais. Este objetivo deve ser atingido por cada unidade escolar que, independente de estar localizada na zona urbana ou rural, deve propiciar a melhoria da qualidade do ensino para todos. E, justamente por perseguir este esse objetivo, a ADIMU se faz necessária. Não há como fugir do imperativo da avaliação dos conhecimentos quanto o que se propõe é a melhoria de todo o processo educativo e não apenas da valorização de aspectos regionais.

Simploriamente, é fácil dizer em um artigo de jornal que constitui tarefa simples consultar os profissionais da educação para saber de uma suposta prova ideal. Ideal por existir apenas no campo das idéias? Talvez. Contudo, este trabalho de consulta às bases encontra-se consolidado nas diretrizes curriculares de cada área de ensino. Não precisamos reinventar a roda para elaboração de nossa prova censitária. Ademais, essas diretrizes foram elaboradas para nortear o trabalho das escolas da rede municipal e estar presente nos planos anuais de ensino dos professores. Impossível é pensarmos em uma prova que não seja uniforme ou que atenda toda peculiaridade de cada unidade escolar como quer a professora Ana Maria das Dores.
Para quem vem a público reprovar a iniciativa da ADIMU, apresentamos outras perspectivas de análise para os leitores deste jornal. Em primeiro lugar, cabe a seguinte pergunta. O que se aproxima mais de uma “profunda falta de respeito” em relação aos profissionais da educação: disponibilizar um sistema alternativo de diagnóstico para subsidiar tomada de decisões ou silenciar com relação às dificuldades de nosso sistema de ensino? E uma segunda pergunta. O que se relaciona mais com uma “agressão aos alunos”: submetê-los a uma avaliação de habilidades de leitura/ interpretação ou subestimar as suas capacidades, rotulando-os de antemão como “crianças com limitações para abstração”?

E para quem manifesta o desejo que SME “tivesse uma equipe que visitasse as escolas”, somos obrigados a apontar uma pura falta de informação/interesse, pois o desejo da educadora Ana Maria das Dores vem sendo concretizado há um bom tempo com as equipes de roteiros definidos de visita às escolas da rede para acompanhamento e apoio. A saber: equipes do Ensino Fundamental do Plano de Intervenção Pedagógica (PIP) e do Plano de Desenvolvimento na Escola(PDE-E). Além das equipes de outros setores como Ensino Infantil, Núcleo de Tecnologia e Ensino, Leitura e Mídia e Núcleo de Apoio às Diferenças Humanas (NADH). Podemos citar também o trabalho de Formação Continuada in loco que tem lugar em algumas escolas. Esperamos que a colega não ignore a intensa atividade do Centro Municipal de Estudos e Projetos Educacionais Julieta Diniz (Cemepe), no sentido de promover a Formação Continuada de todos os profissionais da educação, por meio de cursos, palestras, seminários, dentre outras atividades voltadas exclusivamente para “auxiliar a escola e o ensino como um todo”.Lamentamos apenas a sua ausência no nono encontro de formação continuada do terceiro ano. Quando, então, os professores tiveram a oportunidade de falar e registrar suas críticas e sugestões para nos auxiliar na melhoria da ADIMU. Entendemos que a professora tenha achado a prova de matemática extensa, apontando as dificuldades de seus alunos. É natural que alguém que trabalhe com os pressupostos tradicionais tenha, no início, dificuldade de entender a perspectiva da Educação Matemática de caráter formativo. Ou seja, a preocupação não está só com os resultados, mas também com os processos matemáticos, porque os erros são uma fonte de informação essencial e não algo a ser tratado de modo puramente contábil.

Por outro lado, vários professores acharam o processo válido e as provas bem elaboradas, cobrando do aluno o raciocínio lógico. Para quem não sabe “o que fazer com os resultados” da ADIMU, transcrevemos aqui a opinião da professora Graça Talita de Lacerda, avaliando a segunda etapa da ADIMU do terceiro ano, no encontro de formação continuada no Cemepe: “A princípio me assustei com a quantidade de textos escritos na prova. Mas todo conteúdo já havia sido trabalhado, eu já tinha dado questões parecidas ao longo do ano. Não percebi tantas dúvidas como pensei que fossem aparecer. Os alunos conseguiram fazer a prova, mas alguns não entenderam bem o que estava sendo pedido. Acredito que mesmo com os erros pude ver o resultado do trabalho realizado e analisei quais capacidades meus alunos ainda precisam melhorar.”

Para concluir, trazemos a concepção de Luckesi (2002)2  que entende a avaliação como forma de ajuizamento da qualidade do objeto avaliado para uma tomada de posição no sentido de aceitá-lo ou transformá-lo. Para este autor, a avaliação está diretamente relacionada com uma tomada de decisão. Deste modo, o objetivo da ADIMU está posto em sua concepção: um caminho que levará a uma tomada de decisões. Contudo, não deve ser entendido como um processo unilateral. Ele implica em responsabilidades a serem compartilhadas. Da mesma forma que a avaliação sistêmica pretende ser um valioso instrumento para o professor refletir a sua atuação em sala de aula, ela também está posta para que os dirigentes políticos possam rever as suas prioridades. Neste sentido, aluno e todos profissionais da educação só têm a ganhar com esta iniciativa.
André Luís Batista Martins

Coordenador de Área – Língua Portuguesa
Secretaria Municipal de Educação/CEMEPE

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1 Uma versão deste artigo "Avaliação escolar municipal" foi publicada no Jornal Correio em 30/11/201
2 LUCKESI,Cipriano C. Avaliação da aprendizagem escolar. 13º ed. São Paulo:Cortez, 2002



Artigo da professora  Ana Maria das Dores, publicado no Jornal Correio em 14/11/2010

Jornal Correio, p. A2, 14/11/10
Avaliação escolar municipal


A exemplo dos governos federal e estadual, a Prefeitura de Uberlândia neste ano de 2010, criou uma prova diagnóstica (acredito) para avaliar o ensino municipal, apesar de não ter ficado claro qual o real objetivo dessa prova - a Avaliação Diagnóstica Municipal de Uberlândia (Adimu).

Eu, que não acredito em nada do que é vindo pronto de cima para baixo, fico analisando como é que pode uma prova diagnóstica ser elaborada sem a participação de uma figura muito importante: o professor! Embora as provas sejam elaboradas cobrando conteúdos que, supostamente teriam que ser assimilados por alunos de uma determinada série, a prova é uniforme para todas as escolas, não considerando que dentro do mesmo município haja grandes diferenças, até mesmo em locais que poderiam ser semelhantes, como escolas de zona rural, por exemplo, ou bairros periféricos.

Considero uma profunda falta de respeito com os profissionais da educação e, desculpem o termo, uma agressão aos alunos, que fazem uma prova extensa com conteúdos que, embora possam conhecer, não foram ministrados por seus professores. Falo aqui pelo menos da prova da série para a qual leciono: a prova de matemática foi muito extensa com textos longos para crianças com limitações para abstração! Aliás, para saber da prova ideal (se é que tem!) a ser aplicada seria bem simples: bastaria consultar aqueles diretamente ligados à escola, ou seja, os profissionais.

Nesse caso, seria necessário, primeiramente, que a Secretaria de Educação tivesse uma equipe que visitasse as escolas, periodicamente, para saber dos projetos, das problemáticas, das necessidades, do modo de trabalhar dos professores, da equipe pedagógica e administrativa, dos conteúdos que ensinamos da formação de hábitos e elaborar planos de ação, claro, que com a participação efetiva dos profissionais, no sentido de auxiliar a escola e o ensino como um todo.
Por exemplo, nas escolas de zona rural é muito difícil a participação dos pais. Por quê? Porque não têm transporte e a prefeitura não libera o transporte para uma reunião de pais, por exemplo. Esse é um dos muitos problemas que vivenciamos na escola e, que, não há prova que avalie.
Outra questão importante é: o que fazer com os resultados?
Punir professores cuja disciplina os alunos não tiveram resultados satisfatórios? Acompanhar de perto e ver os reais problemas da escola?
Não nos ouvem... Vão nos ouvir agora?

Não sou contrária à avaliação! Avaliação é algo saudável, pois permite uma reflexão sobre possíveis falhas. O que faz a diferença é a forma que usamos para corrigir falhas.
Entendo que uma avaliação séria deve ser elaborada e aplicada de forma democrática com a participação de toda comunidade escolar, haja vista que nas escolas municipais existe hoje o Conselho Escolar e, seria uma excelente oportunidade para consultá-lo. E não se pode esquecer: uma boa escola, uma educação de qualidade — o que todos queremos — se faz com a participação, o trabalho e a vontade de todos: do governo, dos profissionais, dos alunos e de seus responsáveis.
Ana Maria das Dores
Professora da rede municipal de Uberlândia (MG)





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Navio Negreiro

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